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PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Perdas
Neila Baldi 
Professora universitária

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Neste país desgovernado no qual vivemos, temas para a coluna semanal não faltam. Todo dia é um absurdo, como o caso da Nota Técnica que diz que as vacinas não têm eficácia. Mas tem dias que tudo para... Uma pausa profunda, uma respiração longa. E tudo fica menor.

Sexta passada, fui surpreendida com a notícia da morte da mãe de uma grande amiga. Dez dias antes, havia recebido o diagnóstico de uma doença degenerativa. Quando saiu o diagnóstico, pensei em ligar. Não liguei. Só falei com a minha amiga depois que sua mãe morreu. Por causa da Ômicron, não pude abraçá-la neste momento difícil.

Na minha idade, a perda da mãe ou pai é esperada. Mas nunca estamos preparados e preparadas. Minha amiga falou da falta de tempo dos últimos anos. Cada profissão tem as suas questões mas, nós, professoras, temos vivido em exaustão. Com a pandemia, mais ainda.

Lembrei-me das vezes em que tive a certeza da necessidade da volta pro Rio Grande do Sul, depois de 16 anos fora. Primeiro, a não adaptação ao último lugar em que vivi. Quando saiu o calendário das aulas do doutorado, comecei uma contagem regressiva de 222 dias. No meio desse tempo, uma crise de pânico provocada por estresse e cinco quilos a menos. No dia da qualificação, mais uma hospitalização do meu pai. Pronto, era a hora de ir embora e, 10 dias depois, eu já estava aqui.

Mas estar aqui não significa estar. Trabalhamos tanto que parece que nunca chega a hora de curtir a família. Minha amiga falou de sua aposentadoria, que já devia ter acontecido. Mas não deu tempo. A minha está longe.

Até a pandemia, me desdobrava entre a Capital e o interior, a cada 15 dias, para ver pai e mãe. E congressos e viagens a trabalho. Com a pandemia, me recolhi, apesar de o ritmo de trabalho não diminuir - pelo contrário. Mas, e depois?

Conversando com minha amiga, fiquei pensando sobre o tempo que temos. A vida não pode ser só trabalhar. A vida não cabe no Lattes. Não dá para se arrepender depois, pensando que podia ter curtido mais minha mãe ou pai.

Minha mãe, com Alzheimer, se esvai todo dia. É trabalhoso cuidar dela, mas quanto tempo ainda nos reconhecerá? Meu pai tem uma condição cardíaca bem comprometida. Quantos infartos ainda vai aguentar?

Chorando com minha amiga, fiquei pensando que, em alguns anos, serei eu também a perder, e lembrei da música da Ana Carolina, "Eu não paro", que diz: "Quando eu vou parar e olhar para mim? Ficar de fora e olhar por dentro. Quando eu vou parar para ser feliz? Que hora? Se não dá tempo". 

Tem que ser agora. Depois é tarde.

Protegido ou multado? Depende

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Se fôssemos realizar uma enquete de quantas pessoas já receberam e recebem ligações de empresas oferecendo empréstimos; se fôssemos pesquisar quantas pessoas recebem ligações de empresas de telefonia ofertando este e aquele serviço de internet, de telefonia móvel e TV? E quanto as invasões de lojas de departamentos, enviando propaganda, promoções, para nossos email, mensagem em nossos celulares, e até mesmo, adicionarem nossos contatos em grupo de WhatsApp para divulgarem produtos? Os mais novos não pegaram a época em que os bancos ligavam e, não raro, enviavam cartões de crédito para nossas residências sem que tivéssemos pedido por eles. 

Hoje, estamos protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), n.13.853/2019. Sancionada pelo presidente Bolsonaro em 2019, que criou um órgão para fiscalizar e editar normas previstas na referida Lei de Autoridade Nacional de Proteção de Dados (LNPD). Evidentemente que alguns comportamentos sumiram, outros diminuíram, mas outros permanecem. 

A LGPD protege nossa individualidade, direitos de liberdade e de privacidade, já que cria normas para serem cumpridas pelas empresas e governos no tratamento da coleta de dados pessoais, isto é, nossos nomes, CPF, endereços, e os dados sensíveis como biometria, informações sobre filiação partidária e religião, por exemplo. Recentemente, uma dívida na casa de dois dígitos tornou-se ínfima perto da punição da empresa que usou o CPF do devedor para justificar e comprová-la. Como diz o brocado jurídico, "a lei não protege dos dormentes". Como costumo dizer, todo limão dá uma limonada. Devemos aprender com os réus presos. Eles conhecem seus direitos, nós, cidadãos de bem, ignoramos nossos direitos. Há até quem ache que a LGPD tem a ver com LGBT. 

Você já parou para pensar como é armazenada a sua digital que está registrada no clube da sua cidade, por exemplo? Você já parou para pensar como a escola de seu filho armazena os dados preenchidos naquela ficha enorme, até com nossa religião? Certa feita, um ex-empregado para se vingar do patrão por tê-lo demitido, tentou realizar uma compra de mimos de Natal, na cifra de dois dígitos para destruí-lo. Só não conseguiu realizar o intento porque a advogada foi mais rápida. Como? 

Porque não havia LGPD na época. Nenhuma pessoa, como eu ou você, está fora da proteção da LGPD, pois temos endereço, CPF e etc., mas também nenhuma pessoa jurídica, seja MEI, igreja, salão de beleza, condomínio ou até uma rede de TV, está livre da multa por descumprir a LGPD. A própria Bíblia, quando foi escrita, já tinha essa preocupação, pois diz "o meu povo peca por falta de conhecimento". Assim, tanto podem ser multados como protegidos, depende do conhecimento.

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